sábado, 5 de março de 2011

Análise dos desfiles - Dia 1

Atrevimento pouco é bobagem, e depois de analisar os sambas do Rio e de São Paulo, resolvi dar meus pitacos sobre os desfiles. Quatro noites, vinte e seis escolas, 1894 minutos de desfiles (sem contar os estouros de cronômetro). Como, por culpa da Rede Globo (que não abriu mão de passar um Globo Repórter com animaizinhos bonitinhos e curiosinhos), o desfile começou às 23h30 e terminou depois das oito da manhã (!), a análise vem um pouco atrasada porque, afinal, eu precisei dormir.

O primeiro comentário vai para o #epicfail da Globo Nordeste, que resolveu mostrar a abertura do carnaval do Recife na hora do início dos desfiles e acabou tendo que mostrar uma sequência de cantoras trash com músicas mais trash ainda. A ideia foi tão boa (ironia mode: on) que a emissora encerrou a transmissão uma hora antes do previsto (o primeiro desfile programado era o da Tucuruvi, mas o da Tom Maior também foi exibido ao vivo).

No Anhembi, tivemos carros quebrados, enredo repetitivo, homenagens bem feitas, surpresas e decepções. Dando nomes aos bois:

- Unidos do Peruche: Se fosse um menino de cinco anos, a Peruche teria deitado no meio da avenida, jogado as pernas pra cima e, chutando o ar seguidamente, teria berrado, aos prantos: "EU NÃO QUERO FICAR NO GRUPO ESPECIAL!!!". Tudo bem, vamos ser justos, a chuva atrapalhou um bocado. Mas uma escola que acaba de subir e tem a ingrata missão de abrir o carnaval não pode se dar ao luxo de arriscar tanto quanto a Peruche arriscou. Fazer um abre-alas que mal passa pelo portal no início da passarela e carrega mais de cem pessoas é pedir pra ter problemas. O enredo foi bem elaborado e as fantasias estavam corretas, mas os cinco pontos que a escola provavelmente perderá (pelo que li no regulamento, a punição é de um ponto por estourar o tempo máximo mais um ponto por minuto estourado - foram três - e de um ponto por desfilar com menos de quatro carros - apenas três entraram na avenida, já que o quarto teve os mesmos problemas do abre-alas e não teve tempo pra desfilar, impedindo também que o quinto entrasse) já seriam suficientes pra decretar a queda. Isso sem contar com os pontos que os jurados não deixarão de tirar em quesitos como Enredo, Evolução, Harmonia e Alegoria. Palpite: rebaixamento.

- Tom Maior: Confesso que, ao contrário do que eu gostaria, não vi muita coisa do desfile da Tom Maior. Não, não sucumbi ao sono, mas as pescadas que meus olhos deram durante o desfile tornaram necessária a consulta ao G1 pra relembrar o que foi apresentado. Eu comecei a "torcer" (as aspas são porque eu só torço de verdade pela Vai-Vai) pela Tom Maior logo que soube que o carnavalesco seria Chico Spinosa (aquele da "trilogia social" da Vai-Vai entre 2007 e 2009 - reciclagem, educação e saúde -, que deu um terceiro lugar, um título e um vice-campeonato, respectivamente). O desfile foi correto e, dentro das limitações da escola (que, convenhamos, não é nenhuma Gaviões ou Mocidade), foi até muito bom. Os jurados são um pouco preconceituosos e imprevisíveis (ainda não perdoo aquele 11º lugar da Tom Maior no enredo sobre Angola), mas não vejo como a escola ter uma colocação pior que o 12º lugar de 2010. Palpite: não briga por nada.

- Acadêmicos do Tucuruvi: As ameaças covardes recebidas no ano passado não meteram medo e a escola fez um desfile bonito e correto. Entretanto, falar de Nordeste sem ser repetitivo é muito difícil. Nem o diferencial que a Tucuruvi tentou, ao falar dos nordestinos do ponto de vista de quem está em São Paulo (e que levou um cuscuz paulista e uma Igreja da Sé feita de juta pros carros alegóricos), surtiu tanto efeito. Palpite: não briga por nada.

- Rosas de Ouro: A decepção da noite. Não que o desfile tenha sido ruim ou que a escola tenha tido problemas (exceto uma pequena correria no final), mas, pra quem tinha um samba como aquele e protótipos de fantasia como aqueles, foi fraco. Eu esperava muito mais. Um pombo na comissão de frente (não, ninguém me convencerá de que aquilo era a representação do Espírito Santo), uma série de alas repetitivas pra contar a história de Ali Babá (faltou assunto?) e outras coisas justificam a frase inicial deste parágrafo. Palpite: briga, no máximo, por um desfile das campeãs.

- Mancha Verde: Genial. Eu sei, estou repetindo o clichê que usei quando falei do samba. Mas fazer o quê, se é verdade?! A entrada da escola, em meio à fumaça provocada pelos sinalizadores da torcida, arrepiou. A comissão de frente estava surpreendentemente simples e com um efeito impressionante (onde mais poderíamos ver Beethoven, Villa Lobos, Einstein, Leonardo da Vinci e Picasso sambando coreografadamente?). A bateria, que usou a melhor fantasia da noite, fez uma entrada no recuo irretocável. Baianas, alegorias, fantasias, enfim, foi tudo perfeito. Palpite: briga pelo título.

- Vai-Vai: Mais uma vez, é difícil falar da escola do coração. Tentando ser imparcial, digo: se a escola não for campeã, será por perda de pontos nos quesitos Comissão de Frente e Evolução. Aliás, um quesito está ligado ao outro neste caso. A comissão de frente, muito complexa e com várias cenas, se arrastou na avenida (com meia hora de desfile, ainda não havia chegado à dispersão), o que causou uma correria no restante da escola. No final, a correria acabou se mostrando exagerada: a escola terminou o desfile quatro minutos antes do tempo limite. De positivo, as alegorias (o abre-alas foi um dos carros mais bonitos da noite, e a avaria sofrida na lateral não será suficiente para causar perda de pontos) e a original participação do homenageado, que entrou na avenida à frente da comissão de frente, regeu a bateria dentro do recuo e fez o restante do percurso a bordo do último carro. Baianas e casal de mestre-sala de porta-bandeira, como em todo ano, dispensam comentários. O enredo também foi explorado de uma maneira bastante original por Alexandre Lousada (também carnavalesco da Beija-Flor) ao evocar histórias de superação (como Teseu, Hércules e Fênix) pra comparar com a de João Carlos Martins. Palpite: briga pelo título.

- Pérola Negra: Pra uma escola que foi atingida por duas enchentes desde janeiro, a Pérola Negra deu um exemplo de superação. Desfile simples, porém correto e original. Sem muito brilho ou luzes (até porque eles já sabiam que desfilariam com o dia claro), as cores das alegorias e dos figurinos (sim, figurinos, não fantasias, já que era um enredo religioso e o recato se fazia necessário) foram o principal destaque da escola. Os casais de mestre-sala e porta-bandeira também foram originais ao representar todos os mesmos personagens (Abraão e Sara), em diferentes momentos de suas histórias. Outro ponto positivo foi proporcionado por São Pedro: não choveu, mas o céu encoberto escondeu um sol que, por nascer atrás da concentração, atrapalharia a transmissão pela tv. Palpite: briga, no máximo, por um desfile das campeãs.

Daqui a pouco começa a segunda noite de desfiles, com destaque pra Nenê, Gaviões e Império. Amanhã posto minha análise.

Nenhum comentário:

Postar um comentário