sábado, 19 de fevereiro de 2011

Carnaval 2011 - Sambas de São Paulo (Grupo Especial)

Confesso que posterguei enquanto pude o último capítulo da série sobre os sambas de 2011. Não por não querer que ela acabasse, mas por não querer dizer que o samba da minha escola preferida, a Vai-Vai, não é o melhor do ano.

Não é. E dói dizer isso. Ainda mais porque, durante as eliminatórias, nem precisei ouvir todos os concorrentes pra ver que aquele era o melhor. Porque, naquela noite de 3 de outubro, em meio à apuração das eleições presidenciais, vibrei com a escolha daquela composição. Porque tinha confiança de que a volta de Agnaldo Amaral seria um motivador a mais para o desfile.

Aí tudo começou a mudar. Wander Pires foi anunciado como intérprete oficial (os motivos da saída de Agnaldo são um mistério pra mim até hoje) e os CDs da Liga e da Superliga foram lançados, mostrando que haverá coisa melhor passando pelo Anhembi daqui a duas semanas.

A safra de 2011 é uma das melhores dos últimos anos, talvez tão boa quanto a de 2005, que teve obras-primas como os sambas de Império de Casa Verde, Mancha Verde e da própria Vai-Vai. Vamos à análise:

- Unidos do Peruche ("Abram-se as cortinas! O espetáculo vai começar. 100 anos de Theatro Mvnicipal de São Paulo a Peruche vai apresentar. Bravo! Bravíssimo!"): no começo, achei péssimo. Com o tempo, me acostumei. Não fossem os clichês de enredos sobre teatro ("podem aplaudir, o espetáculo vai começar, as cortinas vão se abrir" e outros), teria uma nota melhor. Nota 9,00

- Tom Maior ("Salve salve São Bernardo, pedaço do meu Brasil - Terra mãe dos paulistas", sobre a cidade de São Bernardo do Campo): outro com que fui me acostumando à medida que ouvia. O refrão do meio é muito bom e a letra é inteligente. Nota 9,00

- Acadêmicos do Tucuruvi ("Oxente, o que seria da gente sem essa gente? – São Paulo, capital do Nordeste!"): não gosto da Tucuruvi, mas torcerei por eles esse ano só por causa das ameaças racistas que a escola sofreu no fim do ano passado. O samba não é lá essas coisas, mas passa. Nota 9,00

- Rosas de Ouro ("Abre-te sésamo, a senha da sorte"): aqui começam os melhores sambas do ano. A escola alterou vários trechos da letra vencedora das eliminatórias e isso só deixou o samba melhor. Letra forte e inteligente, rimas criativas, melodia acelerada, mas sem comprometer a harmonia. A nota não poderia ser outra. Nota 10,00

- Mancha Verde ("Uma ideia de gênio", sobre os maiores gênios da humanidade): esse samba é que é "uma ideia de gênio"! A letra é muito criativa e o refrão do meio é indescritível. Parabéns aos compositores. Nota 10,00

- Vai-Vai ("A música venceu", sobre o maestro João Carlos Martins): como eu queria continuar dando essa nota... O samba parecia bom, mas a concorrência atropelou. Pra começar, Wander Pires simplesmente destrói o grito de guerra da escola, jogando agudos onde não tem. A melodia é bonita, mas cansa um pouco. Na letra, destaco a ausência de menções ao homenageado. Como também não é dito o sujeito no título do enredo, fico com medo de que no futuro ninguém saiba de quem a Vai-Vai falou em 2011. Tomara que o desfile seja melhor que os outros e a escola seja campeã pela décima quarta vez. Nota 9,50

- Pérola Negra ("Abraão, o patriarca da fé"): o samba já começa em altíssimo nível com uma introdução excelente (e longa: dura quase um minuto). A letra e a melodia são bem equilibradas e criativas. A escola vem crescendo no grupo especial e o desfile já com a luz do sol pode trazer surpresas. Nota 9,75

- Nenê de Vila Matilde ("Salis Sapientiae - Uma história do mundo", sobre a história do sal): pra mim, a surpresa do ano. Como classificar um samba que se propõe a contar a história do sal, começa falando na Bíblia e termina lembrando o choro dos integrantes da escola no rebaixamento de 2009? Genial é pouco. Nota 10,00

- Águia de Ouro ("Com todo gás, a Águia de Ouro é fogo", sobre a história do fogo): depois do sal, o fogo. E um samba com qualidade muito inferior. Melodia simples demais, excesso de espaço entre os versos, letra fraca. Nota 9,00

- Mocidade Alegre ("Carrossel de Ilusões"): desfilando pelo terceiro ano consecutivo na terceira posição do sábado, a Mocidade traz um samba com ótima letra, mas melodia tão acelerada que atrapalha. Dá pra corrigir isso no dia do desfile: a Leandro de Itaquera fez o oposto em 2004 - ou seja, desfilou com um samba mais acelerado que o da gravação - e jogou fora seu carnaval, mas mostrou que a batida que vale é a do dia, e não a do CD. Como tenho esperança de que isso ocorra, não descontei pontos. Nota 10,00

- Unidos de Vila Maria ("Teatro Amazonas – Manaus em Cena"): quem perder os clichês do Peruche poderá ver um replay com direito a bônus no samba da Vila Maria. "Abrem-se as cortinas, o show vai começar" e "Gira bailarina, a ópera vai te emocionar" são apenas dois dos muitos exemplos. Não bastasse isso, tem melodia fraca e também sofre com excesso de espaços entre os versos. Nota 8,75

- X-9 Paulistana ("De eterna criança a embaixador da esperança... Renato Aragão, Didi Trapalhão!": Tema excelente, samba nem tanto. Sei lá, não tenho muito o que falar... Só não gostei. Nota 9,50

- Gaviões da Fiel ("Do mar das pérolas e das areias do deserto à cidade do futuro - Dubai, o sonho do Rei Maktoum"): como eu disse no Twitter após a eliminação do Corinthians na Libertadores, o enredo sobre Dubai é o mais próximo dos Emirados Árabes Unidos que os corinthianos chegarão em 2011... O samba é bom, e o enredo tem potencial. A Gaviões é uma das escolas que está merecendo coisa melhor do que o que tem tido nos últimos anos... Depois do bi-campeonato em 2002-2003, veio o desastre de 2004 e, desde então, nenhum resultado relevante. Nota 9,75

- Império de Casa Verde ("Samba sabor cerveja. Admirada há milênios, a mais nova sensação nacional", sobre a história da cerveja): ouvi os dois sambas vencedores das eliminatórias (que foram fundidos pra formar o oficial) e acredito que foi feito um excelente trabalho. Ambos continham referências subliminares à Nova Schin, patrocinadora da escola. Enquanto um dizia "A Casa Verde chegou... Skindô", o outro terminava com "Em cada nova esquina um cervejão". Eu preferia o primeiro, mas escolheram o segundo. Tudo bem. O samba é muito bom e a atuação de Carlos Júnior está perfeita. Nota 10,00

Com isso, encerro minha série comentando os sambas do carnaval 2011. Minha torcida este ano vai para (além da Vai-Vai, claro) Tucuruvi, Rosas, Nenê e Império. No Rio de Janeiro, torcerei por Tijuca e Salgueiro (já que a Grande Rio estará de fora, devido à tragédia da semana passada). Nos grupos de acesso, espero que Torcida Jovem, Dragões da Real e Império Serrano fiquem com as vagas. E tudo isso já é daqui a duas semanas...

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