domingo, 30 de janeiro de 2011

Resumão do Australian Open

"The Happy Slam". O apelido é mais que merecido. Longe dos sofisticados parisienses, dos sóbrios londrinos e dos globalizados novaiorquinos, o Australian Open é o melhor exemplo que eu já vi de que, sim, é possível torcer, vibrar, se pintar, pular e gritar num jogo de tênis. O estereótipo de esporte de elite (ou "de burguês", como diria o outro) em que deve-se manter silêncio o tempo inteiro não sobrevive a qualquer torneio, mas cai por terra ainda mais rápido em Melbourne.

Eu não acho legal a ideia de um Grand Slam já na terceira semana do calendário. Com todo mundo começando o ano, as surpresas são frequentes. Quem imaginaria Baghdatis, González ou Tsonga numa final de Roland Garros ou Wimbledon, por exemplo? Os três foram finalistas em Melbourne entre 2006 e 2008. Por outro lado, talvez esse seja mais um charme deste torneio. Pensando bem, tanto faz.

Em 2011, tudo começou em 16 de janeiro, com o Rally for Relief, um jogo beneficente (e divertidíssimo) em prol das vítimas das enchentes na Austrália (recomendo o vídeo). A partir do dia seguinte, a coisa começou a ficar séria. Logo no primeiro dia, uma derrota inesperada de Davydenko acabaria com as minhas chances nos Palpitões do blog Saque e Voleio (eu apostei nele pra final). No segundo dia, derrotas surpreendentes de Marcos Daniel frente a Nadal (desculpe, eu não resisti) e de Ana Ivanovic frente a Macarr... ops, Makarova (foi mal aí...).

Mal sabíamos, entretanto, o que era surpresa até isto. Sem comentários. Na quinta-feira, a derrota inesperada foi do Bellucci. Inesperada, sim. Eu esperava que ele tivesse perdido dois dias antes. Mas ele "lutou até o fim" (como me cansa esse discurso) e só parou na segunda rodada, um feito histórico. Dois fatos extra-jogo marcaram o quarto e o quinto dias de competição. Primeiro, a saia justa em que Kim Clijsters deixou o ex-tenista australiano Todd Woodbridge. No dia seguinte, um ponto morto na quadra. Na mesma sexta-feira, Venus Williams entrou em quadra, jogou sete pontos, desistiu com dor na virilha e saiu vaiada. A família Williams precisa de reza braba.

Chegou o domingo e, com ele, as oitavas de final. É onde começa pra valer um Grand Slam. Depois da festa da primeira semana, com 128 participantes em cada chave, é hora de ver, entre os 16 que sobraram, quem realmente está ali pra ser campeão. Não foram os casos dos apáticos Roddick (que precisa urgentemente trocar de técnico, porque pro atual tá tudo sempre muito bem, mesmo quando o jogo dele está irreconhecível) e Sharapova (que eu também havia colocado na final no Saque e Voleio). Neste dia também foi registrado o recorde de partida feminina mais longa da história de um Grand Slam na Era Aberta (desde 1969). Svetlana Kuznetsova e Francesca Schiavone duelaram por quatro horas e quarenta e quatro minutos, num show de garra e superação que ofuscou todas as outras partidas do dia.

Nas quartas de final, as zebras correram soltas no Melbourne Park. Tudo bem que a sensação Dolgopolov (que eliminou Tsonga e Soderling) entrou em quadra decidido a não acertar um único smash e acabou perdendo pra Murray, mas só de ter chegado lá já foi um grande feito. No último jogo do dia, entretanto, veio o momento mais marcante do torneio até ali. Nadal, líder do ranking da ATP com meses de folga, sentiu dores na perna após um game de 17 minutos em que precisou se defender de todas as formas de um Ferrer avassalador. Pediu atendimento médico no vestiário (o que sinalizava que não era algo simples ou num local qualquer) e voltou. Um pouco apático. Muito guerreiro. Em respeito aos seus fãs, aos fãs do esporte e ao seu adversário, não desistiu. Ok, ele não precisa ser canonizado por isso, já que, se a dor fosse muito forte e/ou pudesse prejudicar sua temporada, continuar jogando seria burrice. Mas outros tenistas (muitos outros, diga-se) teriam arrumado suas coisas e largado a partida mesmo assim, e ainda viriam o discurso de que "lutei até o fim". Sorte de Ferrer, que, apesar do excelente tênis jogado, não precisou encarar um Nadal 100% pra chegar às semifinais.

No dia seguinte, na primeira semifinal, show de Djokovic. Um 3-0 incontestável sobre Federer, que não conseguiu jogar com a mão esquerda (Djokovic percebeu isso logo no início e se deu muito bem). Nas semifinais femininas, também venceu quem mereceu. Na Li, chinesinha que fez história, passou com autoridade sobre a número 1 da WTA, Caroline Wozniacki, salvando match point e dominando o terceiro set (enquanto a dinamarquesa se dava ao luxo de mandar bolas altas toda hora e não executar uma única bola vencedora em todo o set decisivo). Kim Clijsters, por sua vez, venceu a número 2, Vera Zvonareva, e garantiu a vice-liderança do ranking que será divulgado amanhã. Na segunda semifinal masculina, realizada na sexta-feira, Murray venceu Ferrer de virada e se garantiu na final.

O fim de semana prometia fortes emoções logo cedo. Por causa do fuso horário gigante, as finais foram às 5h30, horário do Recife. Ontem, Clijsters e Li fizeram um jogo digno de final, com bons momentos de ambas e decisão nos detalhes. Melhor para a belga, que venceu o segundo Grand Slam seguido e, segundo a própria, passou a merecer o apelido de "Aussie Kim", dado pelos australianos há alguns anos, tamanha a simpatia entre ambos ("aussie" é um apelido pelo qual os australianos se chamam, algo como "brazuca" para nós). Hoje, a final masculina teve menos emoções, mas também foi um bom jogo, com vitória de Djokovic em sets diretos. O sérvio conquistou seu segundo título de Grand Slam (ambos em Melbourne) e o britânico (ou escocês, para a imprensa da terra da rainha) amarelou mais uma vez.

No fim das contas, gostei muito do primeiro Australian Open que acompanhei (poderia ter sido melhor, não fosse a péssima narração da ESPN brasileira). O Slam feliz vai deixar saudades. A cada torneio que assisto me torno mais fã do tênis. O fim da festa em Melbourne só vai ser amenizado pelos novos torneios que virão. Amanhã já começam três ATP 250: Zagreb (em quadra dura coberta, cheio de gente da casa e com poucos famosos), Joanesburgo (em quadra dura descoberta, se despedindo do circuito - está fora da ATP World Tour 2012 - com chave fraquíssima e pouca atenção recebida) e Santiago (em quadra de saibro e cheio de brasileiros, entre eles o atual campeão, Bellucci). O circuito feminino estará de folga, voltando na semana seguinte com Paris e Pattaya City (Tailândia). O ano do tênis está só começando, e promete boas disputas. Torçamos para isso!

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