sábado, 14 de agosto de 2010

Cerimônias olímpicas

Eu sempre fui fã de eventos esportivos. E dois dos momentos que eu mais gosto de ver são as cerimônias de abertura e de encerramento. Na verdade, não faz muito tempo que eu as acompanho. Pra ser mais preciso, acompanho desde 2004, quando gravei as de Atenas em vídeo e assisti cerca de oitocentas vezes ao longo de uns dois anos (até as fitas estragarem e o vídeo cassete decretar falência).

A abertura de Sydney 2000 eu também gravei, já que aconteceu de madrugada e eu não me acordei pra ver (coisa que hoje faria com a maior naturalidade do mundo). O problema foi eu ter gravado por cima no dia seguinte e não ter guardado a fita pra assistir mais vezes, coisa da qual eu me arrependo até hoje. Antes dessa, não tenho lembranças das cerimônias. Isso até aparecer o Youtube. Graças a ele pude ver e rever alguns dos momentos mais importantes dos Jogos Olímpicos - e alguns dos mais bizarros também.

Parece ser consenso que a grande mudança no conceito de cerimônias de abertura veio com Moscou 1980 e suas inovações artísticas. Não assisti a essa cerimônia completa, mas muito do que vi ainda hoje é seguido, ao contrário das anteriores, muito mais formais e sem emoção.

Na minha opinião, os temas centrais das cerimônias deveriam ser sempre os mesmos: história do país na cerimônia de abertura e cultura do povo na cerimônia de encerramento. Quem seguiu essa "regra" se deu bem. E aí merecem destaque a abertura de Sydney 2000, as duas de Atenas 2004, a abertura de Pequim 2008 e o encerramento de Vancouver 2010.

É sempre muito difícil falar em "melhor cerimônia da história", já que os países são diferentes, os diretores são diferentes, os conteúdos são diferentes e, o mais importante, o tempo é diferente (o que acarreta um leque de opções tecnológicas diferente). Levando em conta todas essas diferenças, eu tendo a achar que a abertura de Sydney utilizou melhor as condições de que dispunha à época. Um país novo, com uma cultura rica e um povo multicultural acertou ao contar sua história em ordem cronológica, dando um destaque merecido aos primeiros donos da terra, os aborígenes (que durante séculos foram excluídos e nas últimas décadas têm sido reintegrados à sociedade).

A abertura de Atenas 2004 também contou a história do país em ordem cronológica, mas num estilo acelerado, que não durou nem quinze minutos. No restante da parte artística o destaque foi para elementos específicos da cultura local, como tambores tradicionais, esculturas e seres mitológicos. No encerramento, fragmentos da cultura grega foram apresentados e formaram um painel muito rico e divertido. Em Pequim 2008, a história do país sede voltou a ser o tema central da abertura, com enfoque nas maiores contribuições chinesas para a humanidade.

Por serem o maior evento esportivo do mundo, ficam reservados para os Jogos Olímpicos de Verão os melhores assuntos a tratar numa abertura. Aos Jogos de Inverno, cenas isoladas ressaltando aspectos diversos são mais comuns. Das três edições mais recentes deste evento, a melhor, disparado, é a de Vancouver 2010, introduzindo um novo conceito de como fazer este show, aproveitando o estádio coberto para deixar fogos de artifício de lado e abusar das projeções no chão, uma grande tela branca. Imagens nítidas, claras e totalmente sincronizadas com os artistas que se apresentaram fizeram deste um momento histórico e inesquecível.

Inesquecível também é a cerimônia de encerramento dos Jogos de Salt Lake City, em 2002. Infelizmente, não pela beleza e inovação. A falta de coordenação entre as cenas, o uso reiterado de cantores e bandas sem interação com performances visuais e as interrupções para diálogos entre dois dinossauros e (acredite) para limpar o gelo (!!!!) fazem desta a pior cerimônia olímpica da história, na minha humilde opinião.

Oito anos depois, Vancouver ensinou como se faz uma cerimônia de encerramento. Mais uma vez usando de maneira irretocável as projeções e apesar de uma impressão inicial de que seriam mais discursos e imagens do que apresentações artísticas, os organizadores usaram de maneira muito bem-humorada os maiores clichês sobre o que é o Canadá para dizer "Sim, somos isso mesmo. Mas somos muito mais". E dá-lhe jogadores de hóquei, policiais montados, castores e folhas de bordo, enchendo de orgulho o povo canadense.

Se minha experiência em cerimônias esportivas é pequena em termos mundiais, em termos continentais é ainda menor. Eu lembro de ter assistido ao encerramento do Pan de Santo Domingo em 2003, mas não lembro de muitas cenas. As cerimônias do Pan do Rio, por outro lado, estão mais frescas na memória. A direção de Rosa Magalhães já adiantava uma grande abertura, que superou minhas expectativas, tamanho o profissionalismo demontrado por idealizadores e artistas. Já o encerramento, menos empolgante, ficou devendo um pouco.

Hoje, a cerimônia de abertura da primeira edição dos Jogos Olímpicos da Juventude, em Cingapura, entrou para a lista das melhores que eu já vi. A começar pelo local em que aconteceu: um enorme palco flutuante na Baía de Cingapura. Com elementos simples, mas de muito impacto visual, foi uma cerimônia, nas palavras de Maurício Torres, narrador da Record News, feita por jovens, para jovens e através de jovens. A temática evocava a todo momento a esportividade, a persistência e a inovação, com jovens artistas e jovens atores se apresentando. O cenário natural composto pelos prédios e pela própria baía fizeram um pano de fundo perfeito para a chegada da tocha olímpica, num grande barco em forma de pássaro.

O uso moderado de inovações e tradições faz as melhores cerimônias olímpicas. Exagerar em um ou em outro provoca desastres como o de Salt Lake City ou apatias como a do Rio de Janeiro. Um grande desafio para diretores e artistas, que vêm sabendo emocionar e surpreender o público e a audiência do mundo inteiro.

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